quarta-feira, 16 de junho de 2010

CONFRARIA DOS SABERES E DOS PRAZERES

(Regina e Carlos)

Noite amena de outono, todos convidados a ouvir, falar, tomar uma taça de vinho, saborear o que encontrar de bom. Maria Lúcia Martins encarregada de alinhavar seu saber psicanalítico com o exercício da literatura, Walter Queiroz com seu olhar atento, pinçando palavras e conceitos que poderiam escapar a todos nós. Waldomiro disserta e aproveita para futucar os psicanalistas com vara curta. Conceição, incansável, recebe cada retardatário e vai acomodando a todos com um sorriso que nos faz sentir em casa. Fiéis escudeiros de Maria Lúcia, nós da SOLLEI, ajudamos pondo lenha no fogo. O fogo da fricção intelectual e poética, que produz a luz referida por Conceição. E a ala jovem, todos atentos, dialogando conosco pelas expressões de surpresa, de riso e de desaprovação.

E foram tantas palavras faladas, pensadas e rimadas, que nos levaram ao dicionário de Mário Quintana para reapresentá-las e de novo pensar. Pensar e sentir.

Nossa humildade anti-acadêmica. Quintana fala: o acadêmico comete meio-suicídio, dedicando metade da vida em solenidades rapapés, quando poderia empregá-la toda no silêncio e recolhimento da criação literária.

AUTOR: Um autor primeiro, é assunto. Mas a glória, mesmo, é quando ele vira falta de assunto.

AMOR: Os que fazem amor não estão fazendo apenas amor: estão dando corda ao relógio do mundo.

LIVRO: O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado
Os livros de poemas devem ter margens largas e muitas páginas em branco e suficientes claros nas páginas impressas, para que as crianças possam enche-los de desenhos – gatos, homens, aviões, casas, chaminés, árvores, luas, pontes, automóveis, cachorros, cavalos, bois, tranças, estrelas – que passarão também a fazer parte dos poemas.

Há duas espécies de livros: Uns que os leitores esgotam, outros que esgotam os leitores.

MEMÓRIA: É melhor esperar que a poeira baixe, que as águas resserenem: deixar tudo à deriva da memória.

PSICANALISTA: Os psicanalistas, como o caso deles me preocupa!
Eles próprios sofrem de um dos mais terríveis complexos do mundo.
Que é o complexo dos complexos.
Ah, se a gente pudesse ter uma simples e amistosa conversa com eles,
Sem que descubram coisas por trás!

POEMA:
Os poemas são pássaros que chegam
Não se sabe de onde e pousam no livro que lês
Eles não têm pouso
Nem porto
Alimentam-se um instante em cada par de mãos
E partem.

POETA: E os poetas...que não têm nenhuma idade
E inauguram o mundo a cada instante.

RESPOSTAS: Não deves acreditar nas respostas. As respostas são muitas e a tua pergunta é única e insubstituível.

VERDADE: Tu quiseste dizer a verdade e disseste Beleza!
E choraste.
Mas os anjos sorriram-te...
Porque a beleza é a forma angélica da verdade.

VINHO:
... esse gosto ao mesmo tempo resignado e desesperado que tem o vinho com rolha afundada.

Finalmente, sobre o tempo:
O tempo é um ponto de vista, velho é quem é um ano mais velho do que a gente.

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